segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A NOITE EM QUE O TEMPO PAROU

Segunda semana do projeto - Psicodelia Progressiva


O Sol da Garganta do Futuro já estava por lá desde às 8 da noite. O show dos caras era esperado pra começar por volta da meia-noite, mas os planos alteram os meios.
Por mais que todos estejamos empenhados em trazer uma organização saudável à cena, o aglomerado depende dos coletivos (as bandas) para se fazer valer o empenho.
Pensamos que cada um cuide do comprometimento de sua banda, depois, cuidamos nós de um grupo maior. Acontece que, longe de estarmos todos navegando num mar de rosas, alguns detalhes passam despercebidos quando se tratam de responsabilidade e profissionalismo no mais chato e elaborado sentido destas palavras. E sempre disse: "alguém tem que ser chato" - numa banda, num evento, num projeto, num espaço. No Matriz, o chato bacana é o Edmundo. Quando a razão tá com ele, é com ele que deve estar, mesmo. No BH Indie Music, sou eu. Nas bandas, ninguém de fora precisa ficar sabendo, mas este chato deve existir pra fazer valer sua responsabilidade com os demais chatos.
Chacoalhando a toalha de mesa e assentando de novo, as grades mudam e entra no palco RAM.
Deixamos a pista livre e, atrás, arranjamos mesas dispostas no espaço. Logo foram tomadas e a plateia, sentada e ouvinte, viajava no rock progressivo remanescente de Led Zeppelin e Jimi Hendrix.
Ficava ouvindo e me perguntando:
- Mas aonde estão as referências ao folk music que citei no blog? Que viagem era aquela a minha, do último show que assisti dos caras?
E o show progredia...
Subiam ao palco mais músicos trazendo timbragens alternativas de sax e sintetizadores e minha consciência do que era a RAM ficava cada vez mais confusa, porque o fusion que traziam dava margem a um terceiro show ainda mais inédito. E quem sou eu pra falar de RAM novamente...
Digo o que vi e ouvi naquela noite da última quinta - um showzão. E parecia interminável como cada improviso de cada canção. Se não tivéssemos mais dois shows naquela quinta, a RAM teria escala pra noite toda.


Montando o palco pra banda Sol na Garganta do Futuro, já dava pra entender o que traziam de som. Claro que antes de falar sobre a banda, na semana passada, já havia visitado o myspace dos caras e ouvido todas as canções postadas lá. Mas como estamos inseridos no nicho do entretenimento alternativo, mais surpresas vinham pela frente...
Quando eles chegaram e viram o Matriz, parece que resolveram mudar o rumo da carroagem e lançar mão do repertório experimental pra estraçalhar no rock.
Fizeram muito bem, diga-se de passagem. Não que a plateia do Matriz não ature música para ouvir calado e sentado, mas a surpresa também agradou a quem mais se dizia saber do que propunha a banda.
Diversidade e improviso ditam a inteligência independente. Bem dosados e conscientemente aproveitados, são um trunfo na bagagem dos artistas. E as malas do Sol (apelido carinhoso) trazem caixinhas e mais caixinhas de surpresas.
Sempre achei o palco um lugar sagrado. É um espaço de vácuo no tempo. Uma espécie de cabine com três paredes, onde você se transporta e se altera despudoradamente. Como lugar sagrado, lá tudo é permitido. Você está protegido e fortalecido.
Poucas vezes vejo quem se aproveita do palco e de sua força.
Vi que Fabrico descobriu esse segredo para o bem do Sol na Garganta do Futuro e para o bem maior de quem está do outro lado - na quarta e invisível parede.

A noite é encerrada pela Vinde Ventura e, dada as horas que passavam da uma da manhã, o show parece mais curto e enxuto que os demais apresentados pela banda.
O público esperou até o último aplauso da noite, porque aquela quinta parecia não ter lei. E parecia que todos nós tínhamos nos lembrado dos bons tempos em que as noites eram crianças. E que não nos faziam mal nenhum.
por Malu Aires
fotos Marcos Ganndu (ilustração)
Marco Antônio (bandas)

3 comentários:

  1. eh! agora a sexta-feira começa na quinta!

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  2. "Uma verdadeira missa do Rock'n'Roll! Um dos melhores shows do ano de 2008, e quem foi, pôde se sentir transportado para as décadas de ouro do rock e tem de guardar, por resto da vida, uma concepção mágica no universo!"

    Betto Fernandes (Sobre o show da banda Ram)

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  3. Salvem!

    Sinto-me lisonjeado pelos elogios feitos à banda. Sim, pois qualquer comentário que pretende eximar os rótulos nos agrada. O RAM nada mais é do que quatro (e depois dessa JAM, sei lá... Somos pelo menos 5, e o Betto ainda é figura importante pela iluminação, não elétrica, diga-se), quatro rockeiros que estão ali fazendo o que sabem, o que podem e o que gostam.

    Já faz tempo que a banda está caminhando para rumos diferentes. Além disso, nossos planos de crescer em estrutura e profissionalismo. Queremos ser uma banda forte de BH. Temos trabalho novo suficiente para isso, sem falsa modéstia e sem "subir no salto". Sinto que este show, juntamente com Sol na Garganta do Futuro e VindeVentura, foi fundamental para traçar novos rumos, e ver que tem gente ainda querendo fazer esse tipo de som. Preocupando-se com o show, que não pode ser uma JukeBox humana (sem referência ALGUMA ao JunkBox, hein Malu!), o entretenimento e a diversão, no sentido mais amplo da palavra, que provêm do sentido de divergir, assim como estamos nos divergindo do rótulo que nós mesmos nos colocamos.

    Vejo isso sendo de sumária importância nos nossos "contemporâneos atuais de hoje em dia". As pessoas gostam de serem enganadas. As estruturas e os padronizados comportamentos sociais se esvaem na medida em que estamos fartos e já sabemos o protocolo de suas inserções na sociedade. As pessoas querem ser enganadas, no sentido de serem surpreendidas. Se pudermos apresentar um trabalho artístico, que por essencia tenha suas veias abertas e possa-se ver o sangue das improvisações correndo, e ainda acreditando no bom e velho rock n' roll, estamos felizes.

    Mas e agora? Os próximos passos? Vamos nos unir em prol de nós todos? Sempre confiei em ter estruturas fortes e muitas pessoas trabalhando em prol de si mesmas. Que tal se mantermos o Quinta sem lei como um projeto PELO MENOS mensal? Que tal se juntamos as bandas pra fazer JAMS na transição de um show pra outro? Eu topo isso tudo. Arte é isso tudo. É cruel. É viscera. O corpo fala, não só através do teatro. Quero isso tudo, sei que tem gente que quer também.
    Vamos nessa?

    Abraços, Ricardo Boi, ou Richard "The Ox" Righi, RAM's bass player.

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