segunda-feira, 23 de junho de 2008

Entrevista cedida por Malu Aires à Movin´ Up

Trecho da Entrevista para o blog Movin´Up cedida por Malu Aires, líder da banda independente Junkbox e Organizadora e Idealizadora do movimento BH Indie Music.

Written on 13:56:00 by Maurício Angelo

Como prévia de uma grande matéria que a Movin' Up está realizando sobre todas as transformações ocorridas no mercado mundial da música nos últimos anos e o cenário independente no Brasil, resolvi publicar aqui todas as 7 entrevistas feitas. Como apenas algumas declarações serão aproveitadas na reportagem final e dado o ótimo resultado das respostas, creio que é de interesse geral e de todos aqueles que alimentam a cena que isto pudesse vir a tona de forma completa.

Foram direcionadas perguntas semelhantes à 7 nomes da cena indie brasileira: Léo Santigo, editor do portal Fora do Eixo, Malu Aires, produtora e idealizadora do BH Indie Music, Christian Camilo, vocal e guitarrista da banda Instiga, Eduardo Ramos, fundador da Slag Records, Felipe Gurgel, da equipe de produção do projeto Noise-3D e membro do grupo O Garfo, Dary Jr., vocalista do Terminal Guadalupe e Paulo Floro, editor da revista eletrônica O Grito. As respostas dão um bom panorama do que acontece atualmente no mercado brasileiro/mundial e das opiniões de pessoas relevantes para a cena. As entrevistas estão reproduzidas na íntegra, sem nenhum corte. Aproveitem.

Leia a Matéria Completa


Malu Aires - Produtora de shows e idealizadora do festival BH Indie Music

Quais as principais características do mercado independente de música hoje em dia? Como uma banda iniciante e/ou sem apoio de algum selo pode conquistar seu espaço?
O mercado de música independente sempre existiu desde que o fonograma ganhou nome. As pessoas gravavam e ficavam andando léguas com um LP produzido com todo o dinheiro que tinham, atrás de gravadoras que pudessem prensá-los em larga escala, ou refazê-los em estúdio com tudo pago. Depois, as K7´s (fitas demos) fizeram esse papel de forma mais barata. Quem não conseguia gravadora, vendia de mão em mão em show aberto.

Quando entra a tecnologia digital, os CD´s tomaram espaço do K7. Mas como a mídia era a mesma usada no comércio das lojas, a definição "independente" teve que se fazer necessária para distinguir um trabalho de major, a um trabalho indie - feito com as próprias mãos.

A produção fonográfica, antes restrita à pessoas jurídicas, ganhou autorização independente à pessoas físicas - os autores. O termo "Independente" se calçou legalmente.

Hoje, com a morte prenunciada das gravadoras e com os selos fazendo exclusivo papel de distribuição, os independentes ficaram mais organizados e, vendo que a vendagem dos discos se devia a produtividade artística de shows, montavam suas próprias "barraquinhas" e consignavam cinco cópias por lojas onde passavam. A terceirização se fez desnecessária.

Queria deixar bem claro que independentes (bandas ou artistas) não são iniciantes. É jocoso e desrespeitoso esse termo. Fazer um disco, gravá-lo, mixá-lo e masterizá-lo de forma profissional, não é barato, nem tarefa para amador. A demanda de trabalhos independentes eclodiu em razão de uma nova postura para tratar a música como arte. Os artistas existem, os discos estão prensados, encapados e distribuídos, os shows sendo apresentados ao público, vindo ou não um executivo de gravadora interessado. Não somos órfãos das majors. Somos genuinamente e conscientemente independentes. Estamos no BH Indie Music, trabalhando com artistas que já possuem disco ou discos, já estão inseridos no mercado fonográfico e vendem discos de mão em mão há muitos anos.

O início de uma banda, sua formação, ensaios, composição de faixas, gravações demos, produção fonográfica de disco de trabalho, já foi superado. Uma banda iniciante que queira se definir independente, tem que ter disco e com registro fonográfico no ECAD. Tem que ter estrada, consciência logística, exercício profissional e legal do seu patrimônio intelectual para se definir independente. Sem esses cuidados atentos, um artista, um coletivo, não pode agir de forma séria e segura no mercado fonográfico. E, se depois de tudo isso, procura um executivo pra fazer o trabalho pesado, perde o título indie. O independente é auto suficiente e auto gestor.

Venho trabalhando para um mercado comum entre o comercial, hoje praticamente de massa e o independente que, organizado, ganha respeito, visibilidade e competitividade artística comercial. O que acha das novas formas de se vender música, como SMD, ITunes, comércio de faixas digitais em máquinas na rede Wall-Mart, e caminhos como o MySpace e outras ferramentas?
Acho que um passo importantíssimo e respeitoso, vem fazendo o TramaVirtual. Este sim está atento ao direito reservado do autor e também cumprindo o papel de comercialização de fonogramas independentes no Brasil. É pioneiro e merecedor de atenção e imitação. As bandas que não estão atentas ao seu patrimônio (obra composta) que é intransferível e legalmente protegido em lei, contra duplicações exibições e distribuições não-autorizadas, perde em auto-estima. Desvaloriza o mercado independente que é rico e exclusivo em liberdade criativa.

Hoje, estes sites movimentam milhões em patrocínios. Publicar obras nestes sítios, aceitando termos de cessão aberta é comprometer com a propriedade do único bem que o artista tem - sua música, sua obra, sua execução conexa, seu fonograma e seu direito de propriedade sobre ela. As maravilhas de benefícios que se publicam dia-a-dia, não contam esse outro lado da história. Os artistas independentes ainda não ganham com shows para que seja aceito o discurso de uma divulgação compensatória e lucrativa. A obra é dada. Se contabilizada, teríamos no Myspace mais de mil discos vendidos por artista independente.

A tecnologia está chegando e trazendo todo mau hábito já exercido pelas gravadoras quebradas. Muitos artistas independentes vêem qualquer oferta como oportunidade. E algumas oportunidades podem selar a morte de suas carreiras, bandas e direitos sobre suas obras.

Mas a tecnologia a serviço da Lei do Direito Autoral, da Propriedade Intelectual e da distribuição transparente destes direitos, será sempre bem-vinda.


Para os produtores de shows, como este cenário afeta os eventos? Facilita ou não? Como é estar presente neste novo mercado, modificado tanto na forma de se vender quanto na mentalidade do público consumidor?
Temos nós, artistas independentes, que nos mantermos em alerta para não nos tornarmos "artistas virtuais", com fonogramas digitalizados sem registro de autoria no Myspace e shows apresentados pelo play do YouTube.

Fonogramas dispersos não compõem uma obra, como exerce o papel do álbum em começo, meio e fim. Quem mais deverá agradecer daqui há alguns anos, é o público quando, disco, show e faixa forem tratados com igual atenção e zelo pelo artista.

Devemos estar atentos de que o mercado musical de entretenimento, com a invasão do cenário independente, pede mudanças e posturas diferenciadas ao que vinha sendo empregado pelo mercado de massa. As mídias não são convencionais, são eletrônicas e alternativas, também se faz necessária mais veiculação espontânea extinguindo o famoso jabá e publicações pagas. O público também se difere em idade e exigência, agora, estando mais informado do que nunca. E o tempo é mais longo para quem emprega capital próprio e privado nas produções.

Se a tecnologia avança em visibilidade e divulgação de um trabalho independente, que os produtores usem essa informação como ferramenta de promoção de seus eventos. Devemos somar recursos com inteligência e equilíbrio de ações para um longo prazo.

Os shows e os discos, sempre foram tratados de forma distante, mas congruente. Discos vendem shows e shows vendem discos. Mas produtores de eventos e shows não são, necessariamente os produtores fonográficos e, muitos, estão se preocupando com bilheteria e número de cervejas vendidas, mais que grades de programação e tecnologia sonora.

Mais atitude com a produção artística e menos postura de produção musical, pede a cena independente. Uma atenção única centrada em benefício do artista independente e sua performance, geraria uma auto-sustentabilidade maior para as bandas e para esse novo mercado de música. Boa performance com qualidade de exibição sonora atrai a vendagem de discos, que deveriam ter sempre exposição nos locais de show - festivais e casas. Um supermercado de ofertas dos produtos gerados pelo artista, num mesmo local. O show é a exposição física - essa é a visão imediata que devemos ter, na gestão do entretenimento sobre o cenário atual independente.

Os produtores de shows e também de casas, estão perdendo um filão de mercado quando não enxergam o apelo que a música independente pode criar em benefícios de atrativo ao público, quando, em fato, ele espera sempre ser surpreendido.

Mas o avanço comercial de trabalhos independentes, promete mudanças ainda mais drásticas em toda a máquina do entretenimento musical convencional. É aguardar mais alguns poucos anos e, logo, estaremos surpresos com a auto-gerência que os independentes podem desenvolver, se não surgirem, há tempo, parcerias verdadeiramente colaborativas.

Errata: Malu Aires não atua na área de produção de shows (mercado do entretenimento) como mencionado. Malu Aires é artista, solista e guitarrista da banda Junkbox, compositora (músicas e trilhas) e intérprete. Nas áreas de produção, atua como diretora executiva, produtora musical, artística e fonográfica (independente). Ainda com Junkbox, atua nas áreas de direção de arte e roteirização.

Leia também O Fim do Mundo Como o Conhecemos e O Novo Mercado da Música


Links:

BH Indie Music

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