segunda-feira, 6 de junho de 2011

[política e pensamento] De quem o MinC tem sido refém?

Na última semana, apresentei o ornograma do MinC com suas secretarias e pastas diversas, bem como sua origem política e representatividade no campo da produção criativa.
Quero começar meu pensamento de hoje com números, ou melhor, cifras.
O intuito é o de descobrir quais as verbas que circulam nos editais e programas do MinC e quais destes, são efetivamente destinados ao fomento criativo e a sustentabilidade do artista.

Vou começar com o número 161.152.616. 
São na ordem de 161 milhões, 152 mil, 616 reais os valores quitados pelo MinC de débitos deixados pela gestão de Juca Ferreira. Na sua maioria, destinados a Pontos, Pontões de Cultura, além de projetos de cultura digital e mídia livre.
Pelas contas do Minc, a dívida de 2009 e 2010 é de R$ 827 milhões, faltando destes, mais de R$660 milhões para fechar o rombo. 

Em 2011 o Fundo Nacional de Cultura terá R$326 milhões para destinar a projetos das áreas de cinema, dança, teatro, circo, música popular e erudita, artes plásticas, visuais e integradas. Sim, um orçamento três vezes menor do que é devido, em boa parte, à Cultura Digital.

O projeto que mais se alimenta das verbas do MinC, atualmente, se chama Cultura Viva. Foi o precursor da criação dos Pontos de Cultura, que por sua vez, criaram os Pontões para se articularem entre si e que se inter-comunicam com o projeto Teia, interligando a todos em rede. Daí, vem a grande parcela da comunidade digital diretamente ligada a estes projetos, oferecendo softwares livres para a criação de plataformas que, através da web, ofereçam acervo cultural público até a mais remota das cidades do interior do país.

Mas não é bem isso que vem acontecendo... o lugar parece ter sido tomado por jovens das classes A e B tornando o espaço virtual "muderno" e exclusivista. No conteúdo, não há nada de novo, além de réplicas de matérias de autores que ali concentram a informação dos seus próprios blogs. Onde está o acervo cultural que estes pontos já deveriam estar oferecendo a todo o país?
Por sua vez, os Pontos de Cultura se tornaram "berços" de gestores culturais, a nova nomenclatura pra já maldita sigla do maior vampiro cultural - o produtor de eventos.

Multiplicando-se como ervas-daninhas, os pontos se tornaram o principal veículo de descontentamento político, usando da estrutura operacional patrocinada pelo MinC para se comunicarem em rede com milhares de internautas, mobilizando-os em frentes de protestos constantes. Protestos estes que arrancaram cifras milionárias do MinC, este ano.
Alguns destes Pontos e Pontões outrora foram bares e casas de shows, ou seja, estabelecimentos mais que privados. Alguns, notoriamente "cults", onde o jovem pobre não entra mesmo.

Por outro lado, a FUNARTE e o Fundo Nacional de Cultura, conservam, ainda, alguma autonomia e ordem política. Contudo, em 2009/2010, os editais das áreas de música popular já sofriam pressão para mudanças onde os artistas de música (o profissional independente, pessoa física) não participassem diretamente dos Editas. Ganharam as produtoras de eventos (pessoas jurídicas) o benefício naqueles anos, deixando os artistas da música sem nenhum tostão.

A Lei Ruanêt, principal programa descentralizador e democrático do fomento à criação artística, vem sofrendo outro golpe: a centralização do patrocínio nas mãos dos atravessadores conhecidos no mercado como captadores de recursos. Para se ter uma idéia do monopólio, todos os 6 festivais de música da categoria popular patrocinados este ano pela Petrobrás, dialogam em parceria com os Pontos de Cultura, Pontões, Teia e Comunidade Digital. Assim também acontece com projetos patrocinados pela Vivo, levando-nos a pensar: que teia é essa armada?

Nos últimos anos, o MinC foi visivelmente manipulado por estes grupos que empregaram o conceito mídia livre para o aparelhamento do Creative Commons no Brasil, contando, inclusive, com propaganda desta editora internacional na própria página do MinC, para incentivar a cadeia criativa a ceder sobre seus direitos autorais.

É deste grupo, também, a bandeira da quebra do copyright para que pudessem usufruir de conteúdo livre em suas plataformas e dar à comunidade digital brasileira valor mercadológico global. Não tarde, esbarraram na classe de música e suas entidades representativas de direitos autorais. Para enfraquecê-las, atacaram o ECAD. Mas o intuito principal era, sem dúvida, a mudança na Lei de Direito Autoral, inclusive colaborando para a formulação de uma nova Lei que atendesse aos seus exclusivos interesses de difusão indiscriminada de conteúdo livre na rede.

Infelizmente o programa Cultura Viva é um dos mais importantes do MinC. Criado, sem dúvida, numa intenção singular de processo de democratização de cultura, mas desfigurado pela cobiça de quem viu ali um campo fértil de apropriação de verba pública sem a necessidade de apresentar propostas efetivas para a cultura. 

O MinC acabou criando um monstro, cujos chifres se auto-denominam "sociedade-civil" sem nenhuma ligação ou interesse com o estado comum e coletivo. Grupos que se vêem independentes das leis, dos direitos dos cidadãos brasileiros e do seu compromisso efetivo com a preservação do patrimônio artístico nacional. 

Antes do MinC ser criado, a cultura nacional era preservada pelos próprios artistas. Artistas que se desdobravam em tarefas múltiplas de produção, captação de recurso, gerência e atuação artística. Quando o MinC surgiu como possibilidade de uma política cultural nacional, os artistas deram emprego e foco aos produtores culturais. Estes sujeitos espertos, logo centralizavam para si o poder da captação da verba, do emprego da verba e, por fim, a responsabilidade principal pela miséria completa do artista, nos dias de hoje.

Há muitos anos, o MinC tem sido refém das sugestões de produtores culturais que cada vez mais, se distanciam dos artistas e da classe criadora, trazendo para perto de si, apenas aqueles artistas que se sujeitam às baixas remunerações e a nenhum questionamento desta exploração.
Por ironia, o MinC cria programas que estimulam o surgimento de milhares de novos profissionais da gestão cultural com o Cultura Viva. Perfil do gestor cultural: um empreendedor nato (aquele sujeito que sabe bem lidar com a grana). O cara que sabe fazer economia na cultura e esbanjar no entretenimento fútil que agrade ao seu grande patrocinador - patrono da sua mordomia fácil.

Não tarde, o novo MinC sentiu o cheiro podre desta classe que usurpou do artista nos últimos anos. Promete fechar a torneira deste desperdício de verba pública. E só assim, devolvendo a este profissional seu devido lugar na história da cultura nacional (aquele que faz tão somente o que o artista precisa para criar e viver da sua criação), a arte terá seu devido valor. Afinal, não cabe ao produtor cultural fazer a cultura. Convenhamos, ele não tem talento nato para isso.

Isso cabe apenas à nós - artistas criadores.

Esperamos agora, por políticas que efetivem o fazer arte. E que estas tragam a extinção definitiva dos nossos exploradores e daqueles que fizeram, nos últimos anos, o MinC refém.

O MinC não é ministério "cult", nem a cultura é digital. 
O MinC também não pode ser refém de uma sociedade civil de pouco mais de 2 mil membros (0,001% da população total do país) de um perfil no twitter. 
O MinC não é DCE universitário, nem a casa da "mãe Joana". 

O MinC é o ministério que atua na proteção do patrimônio histórico e cultural e na valorização de milhões de artistas para o sustento e manutenção da arte (o maior bem cultural que deixamos para um país). 

Na próxima semana, Ana de Hollanda será o tema deste blog. No final, quero chegar perto de uma resposta: será que a nova ministra da cultura é capaz de trazer o  Minc e suas políticas de encontro à proteção, valorização dos artistas e no combate à miséria instalada para o nosso setor?


fontes
http://www.cultura.gov.br/site/2008/10/17/apresentacao-de-projetos-culturais/
http://www.cultura.gov.br/culturaviva/restos-a-pagar-minc-honra-compromissos-dos-programas-cultura-viva-e-brasil-plural/
http://www.cultura.gov.br/culturaviva/cultura-viva/
http://www.teiacultural.com.br/
http://pontosdecultura.org.br/
http://foradoeixo.org.br/institucional/festivais-aprovados-no-petrobras-cultural
http://foradoeixo.org.br/meiodesligado/blog/projetos-culturais-patrocinados-pela-vivo-em-2011




Minha foto
* Malu Aires é autora (compositora), intérprete, produtora fonográfica independente, organizadora e idealizadora do BH  Indie Music.

O blog "política e pensamento" será re-publicado no blog BH Indie Music. É proibida sua reprodução parcial sem a autorização expressa da autora deste blog ou integral sem a citação de fonte.

19 comentários:

  1. Não é por nada não, nem conheço essa figura, mas em pleno 2011 quem teria uma visão de mundo tão estreita como essa?

    Chamou Creative Commons de editora internacional, quando nada mais é do que um tipo de licenciamento. Então o ser humano cria a Internet, simplesmente a mais fantástica ferramenta de colaboração e conhecimento da história, e pessoas como essa preferem que a gente puxe a tomada e volte ao mundo de antes.

    Talvez ela prefira viver no mundo do copyright e ficar com 3% das vendas de discos, entregando os outros 97% para o bolso do patrão.

    A autora critica os "jovens de classe A e B" da cultura digital mas mostra em seus argumentos uma visão de quem vive numa sala de ar-condicionado e nunca pegou um cata-jeca para desembarcar no interior e ver de perto o que está acontecendo. Talvez nem conseguiria, pois não consegue enxergar mais que um palmo à frente do próprio nariz.

    E o pior é que algumas falas da nossa atual ministra carregam um pouco desse tipo de visão.

    Quem quiser pode até respeitar a opinião da autora, mas ideias não foram feitas para ser respeitadas e sim debatidas. A gente respeita a pessoa, a ideia a gente discute.

    ResponderExcluir
  2. Paulo, realmente você não me conhece. Pesquise, então e não se precipite em julgamentos falsos. Aproveite e pesquise sobre o Creative Commons também e seus contratos de edição internacional de licença livre. Logo abordarei esse tema aqui também para que o artista independente de música saiba o que está assinando e consiga enxergar quilômetros de distância do seu próprio nariz e não continue aceitando as verdades prontas da comunidade digital.
    Neste post o tema é verbas do MinC para a criação artística. Se puder debater conosco este tema, será bem-vindo.

    ResponderExcluir
  3. Oi Malu, nem é questão de pesquisar para julgar, estamos aqui discutindo ideias, conceitos, e não currículos. Você coloca "artistas", criadores, talentosos natos de um lado, como merecedores de verbas públicas, donos de um notório saber que justificaria apoio financeiro total do Ministério da Cultura. De outro lado, gestores culturais, insensíveis e incompetentes, prontos para sugar a energia de artistas incautos e ficar com a grana no bolso.

    Queria que me enumerasse UM único Ponto de Cultura em que aconteça pelo menos uma das características que você disse: mordomia fácil para gestores, entretenimento fútil ou gestores que ficaram ricos com dinheiro do convênio. Feito isso, aceito o argumento de que Pontos são ervas daninhas que sugam os recursos do MinC.

    ResponderExcluir
  4. Malu muito interessante. Gostaria de saber se nos eventos do BH INDIE MUSIC estas informações são divulgadas de forma artística através de músicas ou teatro. Este blog foi muito rico a título de informação e conteúdo, você mesma que pesquisou e elaborou este esboço? Você tem algum projeto que gostaria de compartilhar?

    ResponderExcluir
  5. Paulo, não confundo ataque gratuito com discussão de idéias. Tenho visto casos semelhantes em artigos que apontam os erros e os culpados, regularmente. E a estética de postagem é a mesma adotada por você - ataque.
    Muito inconveniente citar nomes, não acha? Se eu achasse o contrário, já o teria feito neste post.
    Vou citar nomes? Bom, por enquanto, não. Prefiro, como dizem "comer pelas beiradas" e "cutucar" uma onça por vez.

    No final, após as próximas postagens semanais, devo esclarecer a real teia desse "negócio" e decifrar a história que vai além de salários fabulosos e fáceis. São cargos e comissões. De atravessadores de patrocínio à exploradores de conteúdo para os patrocinadores. De articuladores da comunidade digital à políticos. De gestores culturais à elaboradores de projetos prontos.
    São mais de 2.500 pontos em todo o país. Uns legitimamente conscientes com seu papel no fomento cultural da sua região. Outros, fazedores de campanha e de contra-campanha, quando convém. E sei, não estão todos num mesmo saco. Mas os legítimos gestores, de saco cheio dos ladrões culturais.

    Não preciso citar UM ponto de cultura. Pesquise quais pontos de cultura estão ligados à bares e casas de espetáculo. E porque o negócio lhes é tão lucrativo. Quais os vínculos destes com patrocinadores de telefonia móvel, por exemplo. Quais espaços, antes alternativos, hoje pontões e pontos, são vinculados a um mesmo eixo.

    Há muita articulação anti-ética e quem faz música já percebeu isso. Meu currículo, Paulo me faz saber enxergar os gestores culturais, insensíveis e incompetentes, prontos para sugar a energia de artistas e ficar com a grana no bolso.

    Só quem não tem experiência no mercado, desconhece o fato. E mais, se é mais produtivo e importante, culturalmente, ser gestor que artista, falo com quem cospe no prato que come, porque sem arte, não há cultura, nem gestão.

    Não posso lhe responder mais nada que adiante os assuntos dos meus próximos posts.

    A intenção era mesmo esta - esclarecer aos músicos e artistas independentes sobre quem hoje é o vilão da nossa história. Sob a ótica do artista criador, não do "gestor cultural", produtor de evento, dono de blog ou disseminador de inverdade ou conteúdo pirata na web.

    Tenho legitimidade intelectual e prática para o exercício. Dê-me a liberdade para expôr a verdade e cuidado para não colocar em exposição as "onças cutucadas" quando em sua defesa tão gratuita.

    Se você é gestor cultural, exemplifique seu trabalho de zêlo à cultura. Se é da comunidade digital, diga-nos quando o artista será remunerado ou terá retorno pelo que compartilha de graça. Se é jornalista, leia mais do que os Trending Topics. Se é artista independente, abra o seu olho.

    ResponderExcluir
  6. Polaco,
    durante os eventos do BH Indie Music temos feito debates e filmado os depoimentos que passam mais pela estética do fazer arte que pela política.
    Aqui somos todos artistas sem vínculo político ou politiqueiro e as postagens do [pensamento e cultura] são exclusivas no nosso trabalho de conscientização política do artista independente.

    Achei urgente a iniciativa, já que o artista independente tem sido usado como escudo de guerra no jogo sujo do poder político-cultural e econômico. Hora do basta e colocar a boca no trombone, não acha?

    ResponderExcluir
  7. Claro que sim Malu por isso te dou os parabéns por este post. Quando digo da exposição destas verdades no meio cultural em forma de arte seja ela teatral e/ou musical é para que pessoas que não contentam com conteúdo direto, que fogem do debate acusando-o de sensacionalista, sejam envolvidas de maneira harmônica. Sobre a política que nos envolve, acredito que mobilizações com idéias e projetos voltados para Música Independente como todo, pode nos colocar no tabuleiro deste jogo e ai quem sabe discutir de igual para igual.

    ResponderExcluir
  8. Polaco,
    Prefiro achar que o lugar da arte é no fazer arte e, fazer música sobre essa politicagem suja daria em funk-fuleiro e só. Na melhor das hipóteses, punk-punkadão.
    Prefiro o ensaio livre, como tenho feito pelo [política e pensamento].
    É uma forma que encontrei de limpar o caminho para o meu próprio fazer musical. E no meu fazer musical, a base de todas as coisas é humana. Tô nem aí pra política na minha música se o ser-humano não estiver preparado pra ela, pra convivência social e pro respeito mútuo.
    Mas ai, quando a política atrapalha a convivência social, o respeito mútuo, a liberdade criativa e os direitos das pessoas, ela me interessa e muito. Preferi escrever sobre ela que cantá-la.
    No dia-adia, adoro falar com os amigos sobre política. Um dia poderemos fazer isso, por que não?
    Apareça nos nossos eventos.

    ResponderExcluir
  9. Tentei acreditar que um dia o que pertence a "todos". Verbas públicas para políticas (públicas). Fossem de fato tratadas e cuidadas com a finalidade a que se destinavam, mas não é assim. Somos humanos, e, como tal passíveis de falha, contudo o que mais me incomoda é a recorrência dessas falhas. E o nosso "jeitinho", tipicamente brasileiro de explicá-las. sou sujeito desse jogo e prefiro ter as informações a respeito da destinação e do uso das "verbas públicas". Mais que elucidativo, "posts" para serem debatidos. Grande serviço à comunidade artística, Malu Aires. Obrigado!

    ResponderExcluir
  10. Oi,
    Prazer, sou Damiana.

    Faço parte do grupo da categoria colocado por vc de “ervas-daninhas”, mas gostaria de classificar-me como uma “erva daninha” do “interior”, onde o "berço" foi criado através de um movimento do “Mostro” que é a da sociedade civil organizada. Coloco aspas por entender que "erva daninha" alastra e é dificil de ser tirada da terra - como as ações e os movimentos construídos pelo coletivo de atores locais pela cultura sertaneja - "berço" como algo nos dado e compreendido a partir da nossa concepção de mundo e, por fim "monstro" como o boi da cara preta ou a cuca - criados pelos imaginário infantil que ao mesmo tempo que assusta pode ser interpretado como a sua imagem.


    Ser Ponto de Cultura no sertão norte mineiro, lugar que moro e tenho muito orgulho, é onde a produção cultural é de terreiro e chão batido a "mordomia" é ter um banquete de mandioca cozida e um frango caipira depois da oficina ou festa de folia. Ai que delicia!

    Demoraria três noites para chegar até vc, indo pelos caminhos mais fáceis, mas tenho certeza que ao te apresentar um parte do trabalho desenvolvido por esta gente desbancaria sua posição de “erva daninha”, mostro” e principalmente “berço”.

    Não só os das "Gerais" não. O povo da "capital" tbm flor. Ainda coloco aqui a galera dos morros que estão agitando o maior movimento cultural batendo de frente com a repressão da violencia fisica e invisivel produzida por estes movimentos contrários a descentralização do "poder cultural".

    Você já se perguntou para quem escreveu este artigo? Já pensou que uma pessoa lá das "Gerais" - norte de Minas Gerais - teria acesso a este artigo? Pois é, se não fosse a rede digital dos Pontos de Cultura não seria possivel e ai perderia a oportunidade deste meu depoimento.

    Levanto alguns questionamentos sobre a nossa realidade - só para se perguntar e entender que não pode fazer um balaio e jogar tudo, como se as particularidades não fizessem sentido.

    Sabe como viramos Ponto de Cultura? Partindo de um movimento já existente. Partindo do que já era dito Ponto de Cultura e recebeu o reconhecimento. Esta ai a resposta. Não consiguimos o edital ponto de cultura, mas sim o reconhecimento.

    Somos orgulhosos de sermos reconhecidos como Ponto de Cultura, pois através desse reconhecimento entramos numa rede que possibilitou uma troca e um movimento de solidariedade interna e externa. Possibilitou o contato, mesmo ainda a pensar, entre Estado e sociedade civil organizada. O Estado não como “cuidador”, mas como parceiro. Somos orgulhosos de levar este programa e ver o quanto esta organização levou reivindicações que jamais seriam ouvidas individualmente.

    Ainda levanto outras questões que precisam ser revistas por vc para lançar “no meio digital” sobre a importância da “rede virtual” como uma ferramenta de acesso a informação. Caso não saiba nós sertanejos, pé rachado pela poeira da distância do asfalto conhece sim a internet e acha o maior “barato” para não dizer “trem bom”, pois chegou aqui o uma ferramenta de acesso ao um mundo tão distante fisicamente, que possibilita trabalhos e trocas inexplicáveis.

    Isso só chegou neste ’Gerais’ de “primeiro“ graças aos telecentros comunitários levados sociedade civil organizada!!!!! Ai que medo deste monstro.

    Faço este convite para conhecer um pouquinho do Brasil de verdade, mas proponho uma reflexão a estes questionamentos sinceros antes de visitá-lo.

    Um forte abraço,

    Damiana Campos

    ResponderExcluir
  11. Olá Malu Aires, não nos conhecemos pessoalmente, mesmo porque Extrema está no sul de Minas divisa com São Paulo...somos quase paulistas! Sou atriz a 30 anos, estudei inclusive Teatro no Palácio das Artes em 81, antes de trabalhar profissionalmente em S. P. . Quando vim para Extrema, fundei uma Cia.de teatro a duras penas. Além de atuar como atriz, escrevo e dirigo e produzo através da minha entidade cultural sem fins lucrativos uma mostra anual!!! Enfim são muitos anos de dedicação. Quando surgiu o Edital Ponto de Cultura, nós do interior do Estado não tínhamos tido ainda uma oportunidade de termos por exemplo um espaço próprio, a oportunidade de estarmos como Ponto de Cultura alavancou várias ações. Pudemos agregar parceiros, a Prefeitura disponibilizou uma sede, organizamos uma agenda para o artista alternativo se apresentar, abrimos 04 oficinas culturais para a comunidade!!! realmente suas críticas são infundadas e decepcionantes, bem se vê que vc não conhece nada além do seu próprio umbigo, é uma pena!!!

    ResponderExcluir
  12. Oi Malu.
    Te convido pra conhecer inloco os pontos de cultura, vários, em vários estados, na cidade e no campo. É óbvio que não os conhece. Digo isso porque quero acreditar que você não está escrevendo com outras intenções, às vezes prefiro esse tom "inocente" para conhecer melhor os outros.
    Não acho correto defender "todos" os pontos de maneira geral, tampouco concordo com esse tom crítico genérico. Na rede de pontos, assim como no MinC, no Senado, nos Partidos, na Blogosfera, tem sempre uns mau intencionados "envolvidos". Daí a categorizar os pontos como "ervas-daninhas" é de uma levianidade que não tem tamanho.

    ResponderExcluir
  13. Pessoal, procurem se informar melhor a respeito do trabalho realizado pela Malu, com muita dedicação, nos últimos anos, para julgar se realmente o conteúdo do texto é infundado ou leviano. O ato de entender ou aprender algo começa no momento que você discute o por que deste algo ser ou existir assim. A opinião expressa neste post questiona o papel dos produtores e a maneira como este pessoal se apropria de recursos públicos, deixando os artistas a ver navios. A discussão aqui busca conscientizar a classe artística de seu papel fundamental na gestão dos recursos destinados à cultura, tirando das mãos dos incapacitados esta função. Abram a cabeça!

    ResponderExcluir
  14. Ei Lucas,
    Concordo com vc no ponto que diz que a discussão busca compreender este processo. Para escrita de tal texto devemos nos ater a questão principal: É um texto que milita uma posição? Ou então um texto que abraça e chama para problematizar esta questão?

    Dei meu depoimento não para denegri a imagem da Malu, pelo contrario, quis de certa forma levantar algumas questões que ficaram fora desta discussão: para quem vc escreve? Quem são estes artistas que estão fora do processo? E quem entrou? eSTÃO todos DENTRO desta categoria implicada no texto?

    Acho que temos que parar de querer sempre levantar bandeiras e derrubar outras. Enfim acho que lutamos pelo mesmo ideal: Acesso a cultura e descentralização desta.

    Um forte abraço a todos e muita paz no coração.
    Damiana

    ResponderExcluir
  15. É um equívoco pensar a cultura restrita à "arte". Basta estudar um pouquinho de teoria da cultura para entedermos que o Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura vieram justamente para valorizar a cultura de nosso país que ultrapassa o trabalho de "artistas eruditos". Claro que o programa tem problemas, mas não podemos esquecer do avanço que ele representou para a Cultura do nosso país, inclusive para a descentralização de recursos.

    ResponderExcluir
  16. Prezadas Damiana e Rita.
    Não tinha dúvida alguma de que esta postagem chegaria mais cedo à comunidade digital que para aqueles a quem falo - artistas independentes da música.
    Quero deixar claro que reconheço e tenho apreço por muitas iniciativas possíveis através dos Pontos de Cultura, além de tantas outras que precisariam deste benefício (e ainda não o tem) para continuarem cumprindo seu papel, mais que cultural, social.
    Adoraria poder ter recebido através das postagens aqui, os nomes e entidades (em links) que vocês operam, até mesmo para que possamos conhecer alguns destes trabalhos beneficiados de perto. De 2.500 pontos, é impossível que todos sejam desonestos com o trato da verba pública, seria no mínimo equivocado, da minha parte. E o que coloquei no artigo é que a multiplicação de redes e pontos não pode continuar a absorver toda a verba de cultura do nosso país. Há que se ter um freio e uma nova colocação do ministério para o surgimento de novos pontos.
    Não é do gestor cultural o fazer cultura, por melhor que sejam suas intenções. A cultura deste país depende dos artistas cumprirem seu papel de produção criativa.
    Mais que isso, nós artistas estamos cansados de cumprir funções fiscais (leia-se Leis de Incentivo), funções sociais e, até, educacionais. Temos que separar de vez a cultura da educação e os Pontos de Cultura, ainda operam nesta área, até mesmo por desorientação do MinC.

    A comunidade digital não deve mais se comportar como dona da propriedade cultural e patrimonial artística do nosso país.
    O crescimento desenfreado, subsídios dados para pessoas sem documentação regularizada e aparelhagem para casa de shows de rock e de coletivos de bandas não deveriam ser aceitas pelo MinC. A falta de critérios não atrapalha apenas o campo dos artistas criadores sem verba de incentivo, mas a todos que como vocês nos falam, trabalham em pról de uma cultura saudável e honesta no nosso país pras minorias afastadas pelo poderio econômico.

    Os Pontos de Cultura que se esparramam como ervas daninhas são do mesmo grupo que articulam toda a rede para ataques, tão somente, em defesa própria. Viram em iniciativas louváveis, campo fértil de arrendamento de crédito fácil.
    Para que os Pontos de Cultura tenham sua existência compreendida e aceita por nós, artistas, é preciso que estes não confundam cultura com terrorismo virtual. Não confundam cultura com entretenimento. Não confundam liberdade com falta de responsabilidade. Desta forma, estaremos todos nós, artistas, empenhados em ajudá-los a crescer cada vez mais pra levar arte, história e cultura pra mais remota das regiões secas do Brasil.

    Todo o filho desta terra Brasil merece um computador e uma banda larga para se estabelecer uma inclusão digital justa e democrática. Não podem usar do benefício aqueles que dele o utilizam para jogos políticos. Para a disseminação de inverdades. Para ataques digitais. A rede é o campo de todos. De todos os lados e posições. Tendo respeito pelo artista criador, terão nosso respeito também e, assim, poderemos construir juntos um país melhor pra todos.

    Pergunto: que rede é essa que domina a todos?
    Que rede central é essa que lhes diz:
    - Ataquem por ali. RT o link.
    - Usem o avatar da #marchadamaconha, ou melhor, #marchada"liberdade"

    Que rede é essa que os ocupa mais da política que do fazer cultural? E pra onde ela vai nos levar? Espero que não seja pro mesmo caminho do Egito.

    Se ocupem dos seus bons exemplos, porque minha intenção é tão somente a de encarar os maus exemplos e tirá-los do nosso e dos seus caminhos. Não escondo que aguardo pronunciamentos de Pontos de Cultura que viram as más intenções de gestão cultural perto dos próprios olhos, usufruindo da boa vontade dos honestos.

    Sorte na luta para todos aqueles que acreditam nela e sabem com trabalho honesto, enfrentá-la.

    ResponderExcluir
  17. Olá Damiana, obrigado pelo retorno. Na minha opinião a discussão acontece a fim de proporcionar consistência em nossas avaliações a respeito do tema. Não sou militante, sou artista e já decidi em qual lado da história estou. O que está escrito aqui é válido para todos que buscam informação, mas insisto no papel do artista, pois é ele o agente de todo esse processo. Você pergunta quem são os artistas que estão fora do processo. Grande maioria! O acesso é restrito e muitas vezes atrelado interesses alheios às nossas necessidades. Acho que temos que incentivar cada vez mais o debate para chegarmos aos ideais que compartilhamos, mas também para formarmos uma classe artística mais consciente de seu papel.

    Abraços e muita paz!

    ResponderExcluir
  18. Ei Malu ei Lucas,

    Agora mais que nunca o debate está sendo aberto.
    As bases dos Pontos de Cultura são de forma estes pontos que estão espalhados por este Brasil a fora e isso tem que ser reconhecido.

    Minha intenção ao entrar neste debate é levar nossos questionamentos de forma clara e sem agressão, pois somos todos artistas, militantes e, se formos descrever lados, estamos do mesmo lado.

    Malu sua posição na resposta caminha para que muitos tbm acreditam, mas a forma de levantarmos isso é trazer para o debate estas questões, mesmo que provocativas, estas pessoas que fazem parte deste processo neste momento.

    Fomos reconhecidos Ponto tem apenas 1 ano, mas há muito mais estamos nesta luta.

    Não é somente as cifras os problemas do programa, mas aos poucos o debate está sendo levantado de forma coletiva, mas ainda muito devagar.

    Não sou militante ativa pelas politicas publicas de inclusão cultural, não por estar a parte disso, mas que o contexto onde vivo e as coisas que acontece na capital ainda está sendo de longe observada. Isso é um motivo de reflexão. Mas temos companheiros que encampam isso de frente e sei que chegaremos lá.

    Fica aqui o meu pedido de que levemos esta discussão para um ambiente mais próximo. Quem sabe uma mesa ou roda de prosa, pois este assunto - desta forma colocada em sua resposta -me interessa muito.

    Mas sinto em dizer que ler seu artigo me deixou muito triste, pois antes de estar com reconhecimento o trabalho cultural sempre esteve em minha vida e isso não mudou.

    Não estou do outro lado, estamos todos neste.

    Para melhor ilustrar a rede de pontos de Minas Gerais encampa há tempos uma reforma no programa, pois não adianta somente abri para outros entrarem, mas arrumar a casa é preciso.

    Muitos Pontos hoje tem dificuldades com o dialogo com a 8666 que é surreal!

    Este dialogo esta acontecendo! Agora estamos discutindo as leis de acesso ou sobre a questão digital.

    Nota como as questões surgem a partir de uma inquietação?

    É isso mesmo vamos debatendo, mas acho que algo de concreto precisa ser feito. Fica ai mais uma vez a ideia de construir um espaço fisico de discussão.

    Um forte abraço e lembrem-se: Estamos juntos nessa sem lados, mas com vontade de fazer a diferença.

    Damiana Campos

    ResponderExcluir
  19. Damiana,
    agradeço demais sua lúcida compreensão da questão levantada.
    Mais importante neste assunto aqui abordado, a participação de vocês (dos Pontos) e o trazer a informação "in loco" para nós é de imensa contribuição e do nosso maior respeito.

    Fico entusiasmada com o fato de que as questões estão sendo levantadas por vocês também, já há mais tempo. Que os erros e abusos já foram percebidos e estão sendo estudados para um melhor aproveitamento do propósito do projeto.
    Cultura Viva ainda é um projeto novo e isso nos possibilita que barremos mais facilmente os avanços prejudiciais, para que eles não se enraízem no sistema, atrapalhando o todo.
    Por experiência com as Leis de Incentivo, vimos que deixamos os problemas arrastarem até o momento em que é melhor hoje destruir tudo e começar de novos parâmetros, do zero, praticamente. E isso seria mais que injusto a todos os honestos envolvidos no processo.

    Um dia ouvi uma pessoa ligada a área cultural dizer:
    - Regras são para serem quebradas.
    Eu não acredito nisso, não acredito no jeitinho brasileiro, não acredito na falcatrua, na brecha do sistema, na má intenção que se aproveita daqueles que, com muito a fazer, se deixam lesar. Acredito que seja uma idealista também e não estamos loucos querendo ser honestos. Mas, convenhamos: que tarefa, cada vez, mais e mais árdua. Culpa de quem? Daquele que nos oprime hoje.

    A intenção da postagem é a de fazer uma cobertura completa do nosso sistema cultural. Passei pelo MinC, pelos programas, vou falar da Lei, da política, da politicagem e, um a um, os artigos serão lançados para que tentemos abraçar o todo - função mais que difícil, além de perigosa como exercício da verdade.
    O intuito é chegar num pensamento comum de responsabilidade com o fazer cultural.

    Se os próximos artigos alcançarem a disposição de todos aqueles que fazem (fazer real - aquele fazer que nós conhecemos no próprio bolso, muitas das vezes), poderemos alcançar o hoje inatingível diálogo comum. Um diálogo, neste momento, calado e oprimido pelo medo. E que me parece bem distante, ainda com teias de comunicação virtual infinitas e independentes.

    Vejo que cada asunto parece ter um dono no mundo virtual. E quando nos aproximamos de questões um do outro, que são questões comuns de todos nós, tenho percebido no meio virtual a exclusão do debate. Você é artista e é nosso inimigo. Você é da área "y" e desconhece o que faço na área "x". Cale-se, ou te atacaremos virtualmente! Cuidado, nossa turma é grande!

    Leio constantemente em contestações recorrentes:
    INFORME-SE! INFORME-SE! E nós nos informamos constantemente e da maneira mais ética, imparcial e responsável.
    VOCÊ ESTÁ COMPLETAMENTE EQUIVOCADO, VOCÊ É INCAPAZ INTELECTUAL, VELHO GAGÁ, FORA-DE-MODA, QUE PESSOA MAIS ATRASADA NO TEMPO!
    Quando somos muito mais responsáveis pelos acertos, porque pensamos, diariamente, neles. Queremos diálogo, mas há mais massacre e chacota pública que conversação, hoje.

    Àqueles que pensam, que constróem, que fazem, estes não poderão mais ser oprimidos.
    O momento da verdade é aqui também.
    E é agora.

    Ou não conseguiremos mais fazer, nem por ideal, nem por amor.

    Um abraço pra você.

    ResponderExcluir

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More